sábado, 27 de agosto de 2011

Resenha do filme Planeta dos Macacos – A Origem

Por Bruno Tinoco

Há duas semanas, quando soube que iria estrear um novo filme baseado na produção original de 1968, Planet of the Apes (Planeta dos Macacos, em português), fiquei bastante animado. Sempre achei uma das ideias mais legais do cinema americano e, agora, teria a oportunidade de saber como os “macacos” dominaram a espécie humana e adquiriram certas faculdades ausentes nos grandes primatas do mundo real*, tais como fala, andar ereto e inteligência superior à do Homo sapiens, isto é, nós.

Assisti ontem o filme, logo na estreia, e vou compartilhar com vocês as minhas impressões e comentar determinadas passagens e conceitos que acho que merecem discussão. Desde já, adianto que fiquei satisfeito com o que vi e recomendo aos amigos. É seguramente um dos filmes (ao lado de Rio) que mais me empolgaram em 2011.

O filme gira em torno de um cientista (interpretado por James Franco) que luta por descobrir uma droga capaz de curar o Mal de Alzheimer, desta forma livrando o seu próprio pai do triste desfecho da doença. Para tanto, ele desenvolve uma droga que, ao que parece, trata-se de um transposon, isto é, um vírus com potencial de se inserir no genoma do hospedeiro e usar a sua maquinaria celular para propagação. Assim, este vírus, criado pela empresa Gen-Sys, seria capaz de produzir moléculas terapêuticas que atuariam de modo a eliminar os transtornos causados pelo Alzheimer. A droga, chamada de ALZ112, é então testada numa chimpanzé, cujo filhote, Cesar, passa a morar na residência do jovem cientista, após as pesquisas com o medicamente terem sido suspensas devido à perda de controle do animal.

Neste ponto vale uma primeira observação. Cesar era um OGM, ou seja, um organismo geneticamente modificado, já que herdou parte do seu genoma de sua mãe, cujo material genético já havia sido alterado pela suposta inserção viral. Há leis severas que controlam as pesquisas com OGMs em todo o mundo. É claro que, no cinema, se o bebê chimpanzé não tivesse ido morar com o pesquisador e recebido educação de ser humano, não haveria enredo para o filme.

Durante o crescimento, Cesar passa a manifestar sinais notórios de uma inteligência sem precedentes nos primatas selvagens. Em uma das marcantes passagens do filme, Cesar, enquanto era levado para passear em uma reserva natural, se vê diante de um cão preso a uma coleira por seus donos, fato que, surpreendentemente, o faz mergulhar numa profunda reflexão sobre qual o seu real papel naquela sociedade até então dominada pela espécie humana. Se eu pudesse ler a sua mente, diria que ele pensou: “Seria eu apenas um animal de estimação?”, assumindo uma postura típica de uma pessoa atormentada por crises existenciais.

No desenrolar da trama, Cesar é levado por autoridades a uma espécie de “cativeiro de luxo”, que, de luxuoso, não tem nada! É neste cativeiro que Cesar nos brinda com vários momentos de intensas reflexões. Em um dado momento, ele desenha a janela do seu antigo quarto na parede, como quem clama pelo regresso ao lar, numa clara tentativa de atenuar o sofrimento da prisão através de uma manifestação de arte. Noutra passagem, ainda no cativeiro, Cesar, sutilmente, imita a posição da histórica estátua O Pensador, do escultor francês Auguste Rodin, quando os diretores parecem querer preparar terreno para a iminência da ascenção dos primatas sobre a espécie humana.

A situação perde o controle quando um grupo de grandes primatas (a saber: chimpanzés, orangotangos e gorilas) escapam da prisão e libertam os outros “macacos” que estavam sendo mantidos como cobaias nas dependências da Gen-Sys. Liderados pelo carismático Cesar, os animais conseguem fugir da polícia americana para uma floresta.

E como os macacos vencem essa batalha com os seres humanos? Realmente, se fosse na base da força bruta, seria uma disputa relativamente simples em favor dos homens. Mas, um fato que não comentei, mas que foi decisivo para os rumos da história envolve uma propriedade do medicamente para o tratamento do Mal de Alzheimer. Se nos grandes primatas a droga era capaz de proporcionar faculdades fora do normal, em humanos, o medicamento trazia uma consequência nefasta. Ao que parece, as moléculas produzidas pelo genoma viral geravam uma letal reação de autoimunidade. Quando um dos pesquisadores que estudava o medicamento se infecta com o vírus, o problema deixa de ser apenas uma rebelião de macacos para se tornar a grande explicação para o declínio repentino da população humana no planeta. Em outras palavras, o medicamento, criado com o intuito de salvar vidas, passou a ser o maior vilão dos homens.

Também aqui cabe um comentário e uma citação histórica. A ideia da quase extinção da espécie humana apresentada no filme não é de todo absurda, já que, historicamente, nós temos exemplos de grandes populações que foram dizimadas ao entrarem em contato com um patógeno para o qual o organismo não exibia defesa imunológica. Podemos citar a introdução de patógenos pelos espanhóis no coração do império Inca, fato bem documentado no livro Armas, Germes e Aço, de Jared Diamond. É um interessante exemplo histórico de como uma minoria pode derrotar uma esmagadora maioria sem o uso da força bruta, em vez disso, com uma arma bem mais eficiente, a doença. Pelos meus cálculos, o pesquisador morre no filme após 3 dias de contato direto com o vírus. Diante deste cenário, realmente nem daria tempo de os meus colegas da FIOCRUZ desenvolverem uma vacina contra o vírus.

A fala nos macacos

Achei que deveria comentar essa peculiaridade após me sentir incomodado com uns risinhos debochados durante o filme. O filme é uma ficção científica, obviamente não podemos e nem devemos exigir rigor científico de um filme que se propõe ao entretenimento. Quem deseja se informar a respeito de publicações científicas sérias há inúmeros sites que disponibilizam artigos em revistas nacionais e internacionais para serem lidos. É só baixar, ler e ser feliz.

Sobre esta questão da fala, recomendo fortemente a leitura de um dos textos que publicamos neste blog, intitulado O caso FOXP2 – quando pequenas alterações provocam grandes mudanças. Lá é discutido um pouco sobre a história molecular evolutiva deste gene, que é associado à nossa intrínseca capacidade de falar. É oportuno lembrar as palavras de Sean B. Carroll quando ele nos diz que: “De modo geral, a evolução segue um padrão em mosaico, com diferentes características surgindo em diferentes momentos e evoluindo em taxas distintas ao longo da história.”

Sob um ponto de vista evolutivo, é evidente que fica frágil o argumento de uma droga com finalidade para terapia do Mal de Alzheimer poder gerar mudanças fisiológicas e comportamentais tão acentuadas nos primatas a pontos deles exibirem características essencialmente humanas, que são resultado de pelo menos 6 milhões de anos de transformação – tempo da divergência entre a nossa linhagem e a dos chimpanzés. Mas, também o bom senso nos diz que ninguém iria se divertir se o filme tivesse duração de 15 horas para os diretores tentarem fundamentar eventos que a natureza levou milhões de anos para moldar.

Certamente eu deixei passar muitos outros momentos marcantes deste filme, que vale muito à pena ser assistido como uma grande obra de ficção. Caso lembrem de mais fatos interessantes comentem que nós discutiremos.

Fico por aqui e até breve.

* Nós também somos grandes primatas.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Divulgação de ciência e a larva véliger

Por Gustavo Miranda

A Zoologia é uma das áreas mais fascinantes da Biologia. O  estudo da diversidade animal deslumbra o homem desde Adão (o primeiro possível taxonomista) até os zoólogos que se formam hoje em dia, passando, é claro, por Aristóteles, Darwin, Wallace e tantos outros grandes biólogos. Infelizmente, o modo como toda a informação gerada por esses pesquisadores (menos Adão e Darwin) é passada ao público é praticamente inacessível. Os artigos e monografias são publicados em uma linguagem seca, direta, sem muitos rodeios e recheada de termos técnicos muitas vezes ininterpretáveis. Além disso, o acesso aos periódicos onde esses trabalhos são publicados só é possível nas universidades e mesmo assim, nem todos os conteúdos são liberados. O que salva o público leigo desse vácuo de informação científica são os livros, vídeos e os raros blogs de divulgação científica. Porém, nem sempre foi assim.

Existiu no século XIX–XX um brilhante Biólogo Marinho chamaWalterGarstangdo Walter Garsteng (1868-1949) cuja especialidade era larvas de invertebrados marinhos e as informações que esses imaturos fornecem sobre a evolução dos invertebrados. Garsteng, além de ser um proficiente cientista, tinha um dom especial em transmitir suas ideias; ele a fazia na forma de versos. Dentre os diversos poemas que escreveu se destacam (título em inglês e tradução livre): The ballad of Veliger, or how the gastropod got its twist (A balada da Véliger ou Como o Gastrópode Tornou-se Torcido), The amphiblastula and the origin of sponges (A Anfiblástula e a Origem das Esponjas), Mülleria and the ctenophore (Mülleria e o Ctenoforo) e Tornaria’s water-works (O “Trabalho Aquático” da Tornaria).

Dentre esveligerses poemas, o mais famoso é “A balada da Véliger ou Como o Gastrópode Tornou-se Torcido”, o qual é transcrito a baixo (retirado do livro “Invertebrados” Brusca & Brusca, 2007). Nesse poema Garsteng relata o processo pelo qual poderia ter surgido a torção nos gastrópodes (caracóis e lesmas), sugerindo que a larva véliger utilizava tal mecanismo para se proteger de predadores. Atualmente, sabe-se que a torção do corpo desses moluscos não surgiu dessa maneira, mas para uma proposta inovadora na época, um poema é um ótimo jeito de se difundir a ideia. É extremamente raro ver um cientista escrever em versos e rimas o resulta de seu trabalho, mas essa poderia ser uma fonte de inspiração para que os pesquisadores atuais divulguem de forma mais descontraída e acessível o produto de seus tão árduos labores.

A balada da Véliger ou Como o Gastrópode Tornou-se Torcido

A véliger é um lépido marujo, o mais lépido do mar

A impelir seu pequeno bote, traz de cada lado, uma roda a girar;

Porém, quando o perigo ameaça seu apressado submersível,

Ela pára o motor, fecha a portinhola e submerge furtivamente.

A véliger testemunhou várias transformações nas pelágicas embarcações a motor;

A primeira que pilotou era nada mais do que uma antiga e lenta embarcação, com diminuta cabine à popa.

Um Arqueomolusco a modelou, à sua imagem e semelhança,

E, numa bolsa de manto, à sua retaguarda, ela trazia sempre guardadas suas brânquias e demais pertences.

Jovens Arqueomoluscos eram lançados ao mar despojados de tudo, a não ser um véu...

Algo como um aro, com movimento giratório próprio, a impulsioná-los, ao invés de serem transportados passivamente;

E, rodopiando cá e lá, iam um a um adquirindo feições parentais:

Concha no dorso, pé no ventre — as mais singulares das diminutas criaturas.

Porém, quando fortuitamente esbarravam em seus vizinhos no mar,

Celenterados com fios urticantes e artrópodes todo espinhosos,

Acreditem vocês, traídos por um de seus pontos fracos, tornavam-se presas fáceis...

Expostos na dianteira, seus frágeis lobos pré-orais não podiam ser recolhidos em salvo!

O pé, vejam só, a meia-nau, próximo ao aconchegante abrigo na popa,

Recolhia-se prontamente, deixando a cabeça exposta, à mercê de todo perigo.

Então, os Arqueomoluscos foram escasseando, sua linhagem definhando celeramente,

Quando, pasmem, chegou a salvação por um mero acidente.

Uma legião de filhotes um dia surgiu, alvoroçado, cheia de novidades,

Anunciando que seus retratores, direito e esquerdo, eram diferentes:

Suas adriças de estibordo, fixas à popa, sozinhas, serviam à cabeça,

Enquanto aquelas fixas a bombordo espraiavam-se de través e serviam à parte posterior do corpo.

Inimigos predadores, ainda perambulando à deriva em números imbatíveis,

Foram agora surpreendidos por táticas que frustaram seus planos para o jantar.

Ante a ameaça, suas presas sucumbiram, mas prontamente reagiram,

Recolhendo ao abrigo da concha suas partes mais brandas, vulneráveis, deixando exposto o pé com seu rígido escudo córneo.

Essa manobra tática (vide Lamarck) aperfeiçoou-se com a repetição,

Até que as partes envolvidas nessa artimanha adquiriram periodicidade,

E a torção, independente afora de qualquer estímulo externo,

Seguirá seu curso predeterminado, mesmo em um vidro de relógio no laboratório.

E assim foi, então, que a Véliger, triunfalmente torcida,

Adquiriu sua cabine à frente, nela abrigando seus apetrechos de navegação...

Uma Trocosfera, em armadura blindada, com um pé para operar a escotilha de proa,

E dupla-hélice para impulsioná-la para frente, com rapidez e prontidão.

Porém, quando esses novos velígeros retornaram ao lar de origem para ali aportar

E se estabelecerem como Gatrópodes com cavidade do mando à frente,

O Arqueomolusco buscou por uma fenda esconder sua vergonha e fracasso,

E, rangendo ameaçadoramente seus dentes córneos, sentiu chegada sua hora e, sucumbindo ao peso de seu revés, morreu.

Livro de Walter Garsteng - http://www.amazon.com/Larval-Forms-Other-Zoological-Verses/dp/0226284239

Walter Garsteng na rede social http://www.facebook.com/pages/Walter-Garstang/120373594675377

Para livros recentes de divulgação cientifica, acesse a seção Livros desse blog.

sábado, 9 de julho de 2011

Quadrinhos viram tema de estudo sobre zoologia

Por Gustavo Miranda

O fanatismo por história em quadrinhos (HQ’s) somado a um amplo conhecimento em zoologia, foi a inspiração inicial do Prof. Elidiomar Ribeiro da Silva em juntar essas duas áreas aparentemente distintas em um trabalho diferente. Unindo-se a ele um aluno entusiamado (este que vos escreve) com mais duas outras pessoas fãs de HQ’s, o resultado foi o trabaho intitulado “Inspiração animal para superpoderes e comportamentos nos universos Marvel e DC” apresentado na forma de pôster na III Jornada de Zoologia da UNIRIO. O trabalho acabou ganhando repercussão inesperada sendo tema de uma publicação do jornalista “Mutante X” no blog especializado em quadrinhos “O X da questão”. Segue abaixo a parte inicial do texto que continua no próprio blog. Vale a pena conferir!


Quadrinhos viram tema de estudo sobre zoologia

heróis do painél Inspiração AnimalAparentemente, animais e quadrinhos de super-heróis não tem qualquer ligação, correto? Nem tanto assim. Um grupo de alunos (sic) da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) desenvolveu um painel baseado na inspiração do comportamento animal para a criação de personagens de quadrinhos. Com o título Inspiração animal para superpoderes e comportamentos nos universos Marvel e DC, os autores Elidiomar Ribeiro da Silva, Gustavo Silva de Miranda, Rosilene Ramos Gonçalves eLuci Boa Nova Coelho dissertam sobre 50 personagens das duas editoras que têm seus nomes, poderes e comportamentos analisados à luz da Zoologia. Tudo com embasamento científico, claro, como manda um bom estudo.

Continue lendo aqui.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Obras infindas

por Gustavo Miranda

clip_image002Eu não entendo nada de restauração, muito menos de marcas de tinta, piso, tijolo... Mas gostaria muito de entender por que o Palácio Guanabara passa por tantas obras de restauração? Todo dia passo em frente a esse lugar e há muito tempo que a sede do Governo está em obras. Uma rápida busca na Internet elucida um pouco a questão.

Em outubro de 2009 teve início uma grande obra de restauração, onde se pretendia trocar telhado, forros, pisos, instalações elétricas e hidráulicas, além de realizar alterações para instalação de internet, pintura da fachada e adaptação para o acesso de cadeirantes. O custo inicial era de R$ 9 milhões e tinha previsão de acontecer em 12 meses. Tratando-se de um local histórico e que estava sem restauro há muitos anos, é até justificável esse investimento. Contudo, já estamos em 2011 e as obras ainda não acabaram. Previsões indicam o término em Julho, mas o custo que inicialmente era de quase dez milhões está em R$ 16 milhões. Essa parece ser mais uma daquelas obras que enchem o bolso de políticos e enriquecem presidentes e donos de empresas, algo corriqueiro em nossas vidas, como nas faraônicas Cidade da Música, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos... Enquanto isso, bombeiros e professores continuam a receber salários medíocres.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O canto da cigarra

Para aqueles que ainda acham que as cigarras cantam até explodir...

E para aqueles que admiram o impressionante ciclo de vida desses animais.


domingo, 29 de maio de 2011

Educação e criatividade

por Gustavo Miranda
Educação é muito mais do que aprender a ler e a escrever. É na escola que as crianças descobrem seus talentos escondidos e, infelizmente, é onde elas perdem todo o seu potencial. O ensino virou uma grande receita de bolo, onde não se estimula as férteis mentes a pensar e a desenvolver o lado criativo.
Em dois TED’s Sir Ken Robinson trata brilhantemente desse assunto (com legenda em português). Vale a pena conferir.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Rumo ao fim (?)

desmatamento_33.1

Foi aprovado pela Câmara dos Deputados a emenda 164 do Novo Código Florestal (273 votos a favor, 182 contra e 2 abstenções). A Emenda 164, de autoria do deputado Paulo Piau (PMDB-MG) e colaboradores, libera plantações e pastos feitos em áreas de preservação permanente (APPs) até julho de 2008. Na prática ela anistia quem desmatou, o que não é aceito pelo governo segundo a presidente Dilma Rousseff. Além disso, a emenda transfere para os estados, em conjunto com a União, legislar sobre o meio ambiente. Dessa forma, os estados terão autonomia para criar e executar seus programas de regularização para as áreas de preservação.

Tal legislação ainda passará pelas mãos do Senado e, caso não sofra nenhuma alteração, pelas mãos da presidente, cabendo a ela aprovar ou vetar a decisão. Quanto a nós, só nos resta esperar que o mínimo de sanidade mental dessas pessoas não deixe esse absurdo sair do papel.

Ouça a rádio câmara.


Mais informações:

http://www2.camara.gov.br/agencia/noticias/MEIO-AMBIENTE/197553-CAMARA-APROVA-MUDANCA-EM-REGRAS-SOBRE-APPS-NO-TEXTO-DO-CODIGO-FLORESTAL.html

http://g1.globo.com/politica/noticia/2011/05/base-contraria-governo-e-aprova-emenda-polemica-do-codigo-florestal.html

http://noticias.uol.com.br/ultnot/cienciaesaude/ultimas-noticias/2011/05/24/camara-aprova-texto-base-do-novo-codigo-florestal-deputados-podem-votar-destaques-que-mudam-projeto.jhtm

http://www.clicrbs.com.br/pioneiro/rs/plantao/10,3323205,Deputados-aprovam-emenda-que-modifica-novo-Codigo-Florestal.html

terça-feira, 24 de maio de 2011

Educação e indignação

Por Gustavo Miranda

A educação pública no Brasil é precária e todos (menos os políticos) sabem muito bem das condições que alunos e professores estão expostos. Não é a toa que o Brasil é um dos piores países em rendimento escolar no mundo, não é a toa que crianças chegam ao 6º ano sem saber ler e escrever. Quem é professor ou conhece alguém que assumiu essa tão imprestigiada profissão, sabe bem que o péssimo rendimento escolar dos alunos não é devido à má qualificação desses profissionais. Muito pelo contrário, em diversas escolas públicas existe pessoal com especialização, mestrado e doutorado, e estes recebem um salário baixíssimo para ficar o dia inteiro engolindo giz e desaforo de alunos mal educados.

Sob esta e muitas outras indignações, a professora Amanda Gurgel silenciou deputados em uma audiência pública no Rio Grande do Norte. Vale a pena conferir o depoimento de quem vive na pele o sacrifício da profissão que era para ser a mais valorizada em qualquer país.

 

terça-feira, 22 de março de 2011

Um empurrão nos desavisados

Por Gustavo Miranda

O carnaval passou e ficaclip_image002m as lembranças dos desfiles, dos sambas, dos blocos, das festas e o desagradável cheiro de xixi. Mesmo com esforço da prefeitura do Rio em colocar banheiros químicos nas ruas, parece que não foi suficiente para o número de foliões mijões. Olhando a proporção número de banheiros químicos X número de mijões, é até explicável (não justificável) que tenha se formado piscinas de urina em algumas partes da cidade.

clip_image004O problema é que mijar na rua virou um hábito para os cariocas (um histórico do xixi no Rio) e é muito fácil ver pessoas indo para o trabalho, parar em árvores e regá-la com suas excretas. Não que isso seja ruim para as plantas, o nitrogênio da urina em quantidade moderada é reaproveitado, mas é ruim para todos os que passam pelo local depois, por causa do mau cheiro. Será que o indivíduo não consegue se segurar até algum lugar que tenha um mísero vaso sanitário? O pior é que após a realização da estréia de um lugar como banheiro público, várias pessoas começam a usá-lo da mesma forma e o fudum só aumenta. Esse odor característico é de amônia, o produto resultante da ação de bactérias com a urina. Essa mesma reação pode ser muito bem aproveitada na confecção de tijolos, onde se mistura areia, xixi e as tais bactérias. Então, uma solução talvez fosse estimular essas pessoas a andarem com uma garrafa para armazenar todo o xixi que fariam na rua. Depois é só eles venderem para alguma xixi-olaria.

Porém, existe outra solução que gostaríamos de lançar agora. É a campanha “Empurrão no Mijão”. Simplesmente quando você vir alguém fazendo xixi na rua chegue por trás dela sem ser percebido e dê um empurrão. Obviamente a pessoa vai se mijar toda, e é justamente essa a intenção. Não vai ser nada agradável para ela chegar no trabalho, na escola ou na faculdade fedendo a xixi e com a calça molhada. Dessa forma, esse sujeito dificilmente vai repetir o ato. Uma sugestão é que se saiba correr rápido, para caso haja alguma reação, você estar longe quando o meliante se recuperar do susto.

Caso você ache a campanha acima um pouco arriscada, nós estimulamos o protesto do “Ôô mijão”. Nesta, já amplamente conhecida, você só tem que dar um alto grito com os dizeres anteriores, e fazer com que a pessoa que está tirando água do joelho, se sinta constrangida por realizar tal ato na rua à vista de todos. Com ações como essa, quem sabe um dia, conseguiremos extinguir essa massa de mijões sem noção.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Samba para o Mistério da Vida

Por Gustavo Miranda

Neste ano de 20clip_image00211 o carnaval carioca vai trazer à avenida do samba uma das mais ilustres figuras da ciência: Charles Darwin. A escola União da Ilha vai desfilar com o samba-enredo “Mistério da Vida” e vai fazer uma viagem no tempo para contar a evolução das espécies e as viagens do naturalista inglês. Infelizmente, a agremiação foi uma das escolas que mais se prejudicou com o incêndio que acometeu a cidade do samba, mas, de qualquer forma, a ciência será levada à Marquês de Sapucaí de uma forma mais descontraída. Segue abaixo o samba-enredo da escola.

Mistério da Vida

Autores: Gugu das Candongas, Marquinhus do Banjo, João Paulo, Márcio André Filho, Arlindo Neto e Ito Melodia

Minha alegria vai girar o mundo
Aventureira vai cruzando o mar
Trazendo Darwin na memória
Mais uma história vou desvendar
Um relicário de beleza natural
É o esplendor do carnaval
Que maravilha, nessa terra vou desembarcar
O show da Ilha vai começar

No fundo do mar eu vi brotar
Se multiplicar a vida
Mistérios vão se revelar
Nas águas que vão me levar… a caminhar

A terra abriu um sorriso
E o paraíso vai me ver chegar
Seres estão antenados
Pequenos alados bailando no ar
Lindos animais na passarela
E lá no céu, a mais linda aquarela
Do alto surgiu diferente
Não sei se é bicho, não sei se é gente?
Somos frutos do mesmo lugar
A árvore da vida vamos preservar

 

Hoje eu quero brindar… com a Ilha
Nessa avenida dos sonhos brilhar
O meu amanhã, só Deus saberá
A vida vamos celebrar

Por essa última estrofe, Darwin deve ter se remexido no caixão. Que a seleção natural não atue negativamente sobre a União da Ilha.

sábado, 29 de janeiro de 2011

As orquídeas de Horta

Por Gustavo Miranda

A mídia escrita é um meio responsável por causar enorme influência na população. Os jornais, as revistas, os livros e a Internet formam a opinião e moldam a cabeça de milhares de pessoas. Os autores que neles escrevem têm a grande oportunidade de passar informações úteis e corretas ao público. Porém, não é sempre que isso acontece, principalmente quando se entra no campo da ciência.

No dia 26 de dezembro de 2010 saiu uma crônica no jornal O Globo de Luiz Paulo Horta com o título “Sobre a existência de Deus” (http://sergyovitro.blogspot.com/2010/12/sobre-existencia-de-deus-luiz-paulo.html). O autor é jornalista, crítico musical e ocupa cadeira na Academia Brasileira de Letras. Porém, ao que parece, seu vasto conhecimento sobre música e literatura não se estende ao campo da biologia, em especial a Biologia Evolutiva.

Nessa crônica o autor trata muito superficialmente da histórica discussão entre Ciência versus Religião. Porém, aqui o foco principal não será esse tema, mas sim o que diz respeito a essa passagem de seu texto:

“Pense em certas manifestações da natureza – por exemplo, o mundo das flores. A mim, pessoalmente, emociona e deslumbra o verificar que em cada flor, alguém ou alguma coisa estava em busca da perfeição. Em todas elas, sem exceção, vê-se a procura do detalhe que, segundo Goethe, traía a presença do gênio. Nenhuma delas – muito menos a orquídea – dá impressão de ser fruto do acaso, o resultado de uma série de adaptações. E o que você pode dizer de uma aplica-se a dezenas, a centenas, a milhares. Nessa espantosa proliferação de beleza, não há algo a mais do que o acaso? Mas se, daí você quiser extrair uma verdade científica, fracassará lamentavelmente. Porque o cientista quererá discutir flor a flor; a cada uma, aplicará métodos de raciocínio que se afastam de uma intuição generalizante.”

O mundo das flores citado pelo autor, assim como qualquer outro reiclip_image002no da natureza (dos animais, dos fungos, das bactérias, dos protozoários, dos vírus) está submetido ao mesmo processo de sobrevivência, que é a seleção natural. Talvez qualquer pessoa com a mínima sensibilidade, se emociona ao observar os detalhes das flores de uma orquídea, e um conhecimento um pouco mais profundo em evolução consegue explicar as inúmeras adaptações que sua flor passou e passa até atingir tal forma. Como exemplo, tem-se o fenômeno da ressupinação, que é muito comum na família Orchidacea chegando a ser considerada uma das características diagnósticas do grupo.

Ressupinação é o fenômeno no qual os botões florais das orquídeas fazem um giro de 180º no eixo do pecíolo, como mostra o desenho B da figura ao lado. Isso faz com que a pétala que estava na região dorsal vá para a região ventral. Quando os botões se abrem, essa pétala (que é chamada de labelo) revela sua coloração diferenciada e vistosa, o que atrai insetos que polinizam as flores.

Apesar de ainda não existir nenhuma sugestão formal, pode-se pressupor o processo pelo qual a ressupinação surgiu. Provavelmente havia uma população de orquídeas ancestrais que floresciam normalmente, sem sofrer rotação alguma de seu eixo. Considerando que a coloração chamativa do labelo já existia, em algum período durante o processo evolutivo da planta, surgiu, de forma aleatória, uma mutação que fez com as flores de parte da população realizassem um pequeno giro, expondo a coloração chamativa da pétala mais que as outras da população. Aquelas que chamavam mais atenção dos polinizadores tiveram maior sucesso que aquelas que não chamavam tanta atenção, uma vez que eram mais polinizadas e deixavam maior quantidade de descendentes. Logo, essa característica se espalhou pela população se tornando comum. Porém, rotações cada vez maiores surgiram durante o processo evolutivo dessa família, fazendo com que as que expunham mais a coloração chamativa, atraiam mais polinizadores e obtinham maior sucesso reprodutivo. E isso foi ocorrendo até as pétalas alcançarem a conformação que conhecemos hoje. E não para por aí.

clip_image004Muitas espécies de orquídeas além de ter coloração vistosa, produzem odores que confundem seus polinizadores ao produzir cheiro igual ao da fêmea, como a Ophrys speculum (figura ao lado). O macho, atraído pelo feromônio extremamete parecido com o da fêmea, parte para seu encontro. Ao chegar no local de origem do odor, ele copula com a flor polinizando a planta. Aplicando o mesmo raciocínio que na ressupinação, o odor parecido com o da fêmea do besouro produzido pela Ophrys speculum provavelmente surgiu ao acaso, e aquela planta com maior atrativos para os polinizadores obteve maior sucesso que aquelas que não produziam. Daí em diante o processo continuou até surgir populações que produziam o feromônio mais semelhante com o original.

Com isso, percebe-se que o que se aplica a um gênero de orquídea, como a ressupinação, se aplica a todos da família, uma vez que essa foi uma característica que surgiu no ancestral e se espalhou por todos os descendentes. Dessa forma, não há a necessidade de se “explicar flor a flor”, como disse o autor, já que a quantidade de gêneros e espécies de uma família pode chegar a dezenas ou centenas. De fato, cada espécie traz consigo uma história particular de sua trajetória evolutiva, como no caso da Ophrys speculum. Mas, de forma geral, Darwin deixou muito bem explicado para aqueles que tivessem o interesse em descobrir como surgiu toda diversidade que hoje conhecemos, que não existe melhor intuição generalizante que a seleção natural.

Referência Bibliográfica

Fischer et al, 2007. Evolution of resupination in Malagasy species of Bulbophyllum (Orchidaceae).Molecular and Phylogenetics and Evolution 45, 358-376.

Sugestão:

McGinley, 2003. The co-evolution of a beetle and a plant. DNA evidence shoes suvival of ancient association. Agricultural Experiment Station Research Report, 14-15

Poderá também gostar de:

Related Posts with Thumbnails